No sábado à tarde que fui ao Bandim, desloquei-me com mais colegas a Lala Quema, ao lugar onde ia actuar o grupo de dança tradicional do qual uma colaboradora fazia parte. Antes da hora combinada, a colaboradora apareceu no nosso prédio, reunimo-nos e fomos de Toca-Toca.
Toca-Toca são carrinhas que funcionam como autocarros públicos. Do tamanho das carrinhas de nove lugares, apenas têm bancos corridos laterais, em que cabe sempre mais uma pessoa, ou seja, pára-se entra mais um e empurra um bocadinho para o lado para se sentar.
Tivemos sorte, encontrámos um Toca-Toca vazio que os funcionários iam almoçar! Pedimos para nos levar para Lala Quema por 1000 francos, éramos 7 e geralmente paga-se 100 francos por pessoa, mas como estávamos a pedir algo fora do roteiro lá demos mais um bocadinho.
Chegados ao sítio sentámo-nos, esperámos sentados no tronco de árvore deitado que estava no chão. As pessoas que estavam em casa trouxeram cadeiras, aceitámos sentar-nos só para não fazer a desfeita.
Vimos miúdos que teriam por volta de 3 anos a brincar no chão de terra, um mais velhinho a tentar andar de bicicleta e quase atropelava outro. Estava também um senhor a costurar em tecido. Um senhor de 70 anos veio falar connosco, perguntou a nossa idade e de quem éramos filhos… ele viveu a guerra, ou melhor as guerras, a colonial e a civil. Não temos bem a noção mas só há 30 e poucos anos é que os portugueses saíram daqui, há 10 houve uma guerra civil e no ano 2009 assassinaram o presidente. Esta gente não é feita de barro ou porcelana… É difícil pormo-nos na sua pele!
Dirigimo-nos para a clareira, a Lala Quema. De repente estávamos rodeados de crianças a olharem-nos. Trouxeram cadeiras para nos sentarmos. Senti-me alguém no camarote VIP. Mudaram as gigantescas colunas para mais perto de nós e tínhamos imensos pares de olhos na nossa direcção. Uma colega comentou que se sentia uma montra, pelo modo como nos olhavam… eu não sei… mas imaginei que deve ser essa a sensação de uma rainha ou de alguém muito importante num sítio público… não é uma sensação muito agradável de facto.
Fez-se uma enorme roda de gente… enorme mesmo. Com recurso a microfónes explicaram que era um festival para festejar os 9 anos da associação “Netos do Bandim”, referiram que estavam presentes outros grupos de dança tradicional amigos e que nos fins-de-semana seguintes haveriam mais espectáculos para assinalar o mês comemorativo.
Dançou-se… ao som de djambé, um outro instrumento que era meia cabaça em cima de uma bacia com água, onde se batia e saltava água para fora, bater de paus e outro instrumento em forma de quadrado e com pele.
A dança é dura, um bater de pés no chão forte, que quem estava sentado sentia a vibração nos pés. Ao dançar inclinam-se um pouco para a frente e fazem de conta que têm um pano nas mãos, mas quando o têm abanam de um lado para o outro. Porém, julgo que o essencial da dança é mesmo a batida dos pés. É uma dança que lembra a guerra.
Eu estava sentada, com um pé elástico por ainda não ter o pé totalmente curado, um dançarino chamou-me mas indiquei o pé, ele dançou virado para mim e depois virou costas e deu uma última mirada a fazer uma careta… foi realmente engraçado!
Depois falei com uma outra dançarina, perguntei o nome de um instrumento. Ela não pode dizer logo porque foi cantar. Noutra dança ela entregou-me o lenço e eu fui dançar para o meio daquele bater de pés, aí não pude recusar… mas não era a dança mais indicada para o meu pé em suposta fase de repouso.
Anoiteceu, foi um anoitecer mágico ao ritmo de danças guineenses!
Voltamos em Toca-Tocas diferentes, pois era difícil encontrar um onde coubéssemos os 7. Fomos num apinhado de gente e ainda fui no colo de uma colega.
O Toca-Toca apenas nos levou até à chapa. Um local onde dizem que se pagava uma chapa para se poder entrar na cidade, ou no centro da cidade. A partir daí fomos de táxi até casa.
Que bom é ler estas histórias e conseguir sentir através das palavras como uma AMIGA como tu está feliz, está a sonhar acordada, está a realizar o seu sonho!
ResponderEliminarA verdade é que a maior obra que o Homem pode deixar durante a sua vida, é alimentar os corações de todos aqules que giram à sua volta! E tu estás concerteza a consegui-lo!
Com muito orgulho,
Diogo Cardona ;)